Goethe e a Sociedade de Eleitos - Alquimia Operativa

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Goethe e a Sociedade de Eleitos

Daniél Fidélis ::
Escrito por Daniél Fidélis :: em 05/09/2015
Goethe e a Sociedade de Eleitos
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Sempre me interessei pelos aspectos históricos e biográficos daqueles que, de alguma forma, se destacaram ou contribuíram para o desenvolvimento das diversas correntes iniciáticas.

Por isso, compartilho uma pesquisa sobre Goethe, com uma abordagem pouco comum deste personagem.

A vida de Goethe


Johann Wolfgang von Goethe estudava Direito há três anos em Leipzig, quando uma hemorragia o levou ao umbral da Morte. Diríamos hoje tratar-se de uma doença psicossomática. Ele confessaria:

Eu era um náufrago, mais doente ainda da alma do que do corpo.

Em 28 de Agosto de 1768 ele retorna à casa familiar e seus pais o confiam ao Dr. Johann-Friedrich Metz, que o cura rapidamente, quando outros médicos haviam-se mostrado impotentes para ajudá-lo.

 Eis como Christian Lepinte evoca o doutor Metz:

Personagem enigmático, talvez preocupante em alguns aspectos, mas ativo, prestativo, cheio de consolo para seus doentes. É um verdadeiro médico na tradição dos Rosacruzes, para quem a cura do corpo deve levar à conversão da alma. Ele possui o segredo de remédios misteriosos que ele mesmo avia.

Graças ao doutor Metz o jovem Goethe não somente curou-se, mas encontrou uma vitalidade que, a partir de então, não mais o abandonaria. Foi por intermédio do mesmo personagem benfeitor e enigmático que Wolfgang viu-se admitido, em Estrasburgo, no círculo pietista de Suzane de Klettenberg.

Um Círculo Místico-Esotérico


Suzanne de Klettenberg agrupava ao seu redor, num ambiente piedoso e confiante, um certo número de pietistas e de ocultistas. Ela era depositária de uma tradição esotérica que remontava a Jacob Boehme, onde as consolações do Evangelho mesclavam-se aos segredos da Arte Real.

Foi graças a ela que Goethe leu Paracelso, Basile Valentin Van Helmont, naturalmente sem omitir Boehme, Cornelius Agrippa, Giordano Bruno e Spinoza. Ele fez da Aura catena Homeri (tratado fundamental da alquimia) seu livro de cabeceira e dele extraiu o essencial de seus futuros trabalhos científicos sobre as plantas e as cores.

Teria Goethe recebido então uma iniciação stricto sensu? É bastante provável, para não se dizer certo. Pode-se admitir que em Wilhelm Meister o doutor Metz é evocado na personagem de Makarie, e que a misteriosa Sociedade da Torre é uma alusão a uma ressurgência da Rosa-Cruz, onde Goethe teria sido admitido.

A Franco Maçonaria


Documentos verossímeis, mas não comprobatórios, tendem a provar que Goethe solicitou, em Estrasburgo ou em Frankfurt, sua afiliação à franco-maçonaria, que lhe teria sido recusada por ele ser então menor de idade.

Por outro lado, documentos de arquivo estabelecem que ele foi iniciado à Loja Amália, em Weimar, em 1780, e que foi assíduo nos trabalhos ritualísticos.

Isto, porém, não impediria que, em 1808, quando ministro do Duque Carlos Augusto, em Weimar, tenha se oposto à “construção” de uma loja maçônica.

“A franco maçonaria – escreveu então – constitui um Estado dentro do Estado. Onde tiver sido introduzida, o governo buscará dominá-la ou impedi-la de causar perturbações. Nunca é aconselhável introduzi-la onde ela ainda não se encontra.”

Goethe e os Iluminados


O ministro-conselheiro Goethe, ao longo de toda a sua fecunda existência, não deixou de manter estreitos contatos com os grupos e conventículos de Iluminados que fervilhavam então na intelligentia germânica e cujas lojas não passavam de átrios, de estágios eliminatórios (como ocorre ainda hoje em muitas Organizações).

Foi nos dois Faustos que ele exprimiu suas teorias ontológicas e metafísicas, e Paul Arnold perguntou-se engenhosamente se Mefistófeles não era mais seu porta voz do que Fausto.

As sociedades secretas sempre exerceram sobre Goethe uma forte atração. Consagrou-lhes, em sua obra, um papel importante, que ele considera sob três aspectos: pedagógico e social, político e, enfim, místico e religioso. O primeiro aspecto é representado pela Sociedade da Torre nos dois Wilhelm Meister, o segundo em Kunust und Altertum (Arte e Antiguidade) e o terceiro pelo fragmento inacabado dos Gehiemnisse (Segredos, Mistérios).

 A Sociedade da Torre


É de alguma maneira a prefiguração de uma Obediência maçônica idealizada. Cerimônias ocultas, graus iniciáticos, ubiquidade na ação, tudo leva ao mistério. E dissemos que era descrito sob os traços de Makaire, Grão Mestre não somente de uma Ordem, mas de uma Sociedade universal que dirige o mundo…

Depois de 1813, meditando sobre a reconstrução do Santo Império, Goethe busca a solução do lado das antigas corporações de Construtores. Ele queria ver nascer uma Loja universal, fortemente hierarquizada, dividida em Lojas regionais, organizada tecnicamente e socialmente, cujos membros, rigorosamente escolhidos, seriam ligados por juramentos e segredos ritualísticos, e um senso agudo da fraternidade. Sob este ângulo, podemos ver em Goethe o profeta da Sinarquia tradicional.

A Mensagem Mística


Quanto à mensagem mística de Goethe, eis aqui como a definiu Christian Lepinte:

A ideia de que uma sociedade de eleitos ou de iniciados perpetua uma mensagem sagrada (que é a própria essência de todas as doutrinas religiosas) domina o pensamento de Goethe… O poema dos Geheimnisse, nascido de preocupações espirituais, onde a influência rosacruciana desempenha um papel relevante, martela o espírito do poeta e permanecerá inacabado… A Ordem monástica cujos mistérios nos são apresentados nos fragmentos do poema, participa ao mesmo tempo da Ordem dos Templários, da Rosa-Cruz, da Franco Maçonaria e da confraria mística do Santo Graal.

Depositária da mais alta Tradição, essa Ordem ideal é a síntese das diferentes formas de espiritualidade cristã, maçônica, rosacruciana, spinozista (e portanto cabalista); Nela, a influência de Louis-Clude de Saint-Martin é evidente. No esoterismo o mistério é uma forma superior de ascese… Zacharias Werner – observa com razão Christian Lepinte – trairá a estima de Goethe por haver buscado conciliar o cristianismo e os mistérios maçônicos numa forma superior de religião universal. Nesse sentido, os Filhos do Vale marcaram época na existência goethiana.”

Magos e Charlatões


Goethe, espírito de luz, poeta apolíneo, foi ao mesmo tempo atraído, fascinado e revoltado pelo aspecto sombrio e tenebroso do Esoterismo. Esta ambivalência se reflete na psicologia e na ação de alguns de seus personagens.

Nos Anos de Aprendizagem, Mignon é o protótipo da adolescente enigmática, “vidente”, dotada, após um abalo nervoso, de poderes magnéticos, mediúnicos. Ela paga seu inefável mistério com um destino fatal, que a conduz a uma morte prematura. Ela é, de alguma maneira, a irmã dolorosa das videntes, das inspiradas que então abundavam, de Catherine Emmerich à Vidente de Prévorst.

Otília, das Afinidades Eletivas, é uma magnetizadora que se ignora. Fazendo-a viver, Goethe demonstra que todos os seres obedecem às leis da Naturfilosofia: Tudo está dentro de tudo e tudo é polarizado. Separada de Eduardo, Otília o vê todas as noites numa visão interior, como sobre uma tela. Ela “paga” esse dom de males insólitos, de alucinações e de uma morte mais singular ainda que sua vida.

Makarie


Makarie é a mais estranha e uma das mais atraentes criações do gênio goethiano. Seu sexo é indeterminado ou, mais exatamente, “ela-ele” transcende a sexualidade. Seu dom de dupla visão se estende ao Cosmo inteiro e ela-ele já tem uma amostra da luz seráfica. Makarie é destacada do corporal, do físico, não se liga mais ao mundo das aparências, a não ser por um fino mas resistente “cordão umbilical”: A Fraternidade Universal. Ao mesmo tempo “ela exige ação” e comanda com autoridade e competência seus irmãos e irmãs da Sociedade da Torre. Leonardo a definiu assim em seu Diário:

Ela é a confidente, a diretora de consciência de todas as almas aflitas, de todos aqueles que se perderam, que desejariam reencontrar-se e não sabem onde.

Em suas visões (supremo arcano) Makarie distingue um Sol interior e um Sol celeste; Ela é o microcosmo do macrocosmo. E ela se definiu: “O céu estrelado acima de mim; A lei moral em mim”.

Makarie é Goethe “tal como em si mesmo enfim a Eternidade o muda”.

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16 Replies to “Goethe e a Sociedade de Eleitos”

Rogério Leandro Beltrami

Prezado irmão, é de muito agrado ler tão esclarecidas linhas, espero continuar recebendo estes h e mais tarde ensinamentos, obrigado. Sempre encontrei em Goethe e também em Alighieri muitos dos pontos estudados no rosacrucianismo, penso que seria de elevada condição estes homens do passado mas também muito presentes nos dias de hoje.

Irmão Kohen

Obrigado, Rogério!

Candido

Prezado irmão Kohen, obrigado pelo ensinamento.

Irmão Kohen

Olá Cândido. Agradecemos por prestigiar o blog.

Frater Orientemple

Muito obrigado pelo artigo irmão! Muito elucidativo!

Josy Ferreira

Boa tarde irmão….mais uma vez me deparo com um texto incrivel e de grandes ensinamentos. Gratidão.

nisio mafra Lopes n

Muito bom o texto já conhecia bastante sobre Goethe e fiquei mais enriquecido! Mas acho que mais prática é melhor que teoria .

Irmão Kohen

Estimado Nisio, agradecemos a opinião.

Ewerton

Obrigado como eu início as minhas taferas?

Irmão Kohen

Estimado Ewerton, entre em contato por email.

Ewerton

To lendo os livros ainda..

Terna

Como os imãs se atraem em seus polos positivos e negativos, assim eu sou atraída por tudo que é mistério e o desejo de descobrir algo que seja em beneficio da humanidade ,principalmente aquela parte mais sofredora. Não sei se estou no lugar certo

Benoersuke Trismegistus

Ótimo texto, Irmão Kohen.
De uma desenvoltura e intimidade contextual ímpar que nos remete diretamente à proposta do título.

Obrigado por nos enriquecer de clareza e conhecimento, Irmão.

:: Benoersuke Trismegistus ::

Denise Regina Mena

Obrigada.

Gleiton

Gratidão.

Maria Odila

Gratidão eterna! Muito vagarosamente me inicio nos estudos e trabalhos confiados a mim, mas creio que tudo se revelara a se tempo nesse imenso Universo.

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