Conto Hermético: Uma Aventura no Oratório - Alquimia Operativa

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Conto Hermético: Uma Aventura no Oratório

Daniél Fidélis ::
Escrito por Daniél Fidélis :: em 25/04/2016
Conto Hermético: Uma Aventura no Oratório
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Chegado o dia e a hora costumeira, Lúcio dirigiu-se ao Oratório. Os familiares já sabiam para onde ele estava indo e o que iria fazer.

Era quarta-feira. Dia de Mercúrio. Propício para trabalhos de estudo, concentração e mentalização.

Após a purificação física e mental, adentrou o recinto especialmente preparado para o seu venerável trabalho.

Enquanto vestia o seu manto, ainda impregnado de incenso de olíbano da semana anterior, lembrou-se de quando realizou seu primeiro ritual, anos atrás. Juntamente com a lembrança, um breve lacrimejar. Lembrou-se de quando saiu para comprar os seus primeiros acessórios: castiçais, velas de cera de abelha, cálice, incensário e as ornamentações. Preocupou-se com cada detalhe. Queria ter certeza de que tudo estaria perfeito.

A típica inquietação de um Aprendiz o levava, frequentemente, a fantasiar sobre o que viria na próxima etapa. Mas sempre vigiava o seu coração, para que o trabalho a ser realizado jamais fosse negligenciado.

Lembrou-se de todos os contratempos: dramas familiares, problemas financeiros, etc. E de como superou cada um deles e permaneceu fiel ao Propósito.

Desde quando fora iniciado, Lúcio estava morando em sua terceira casa. Nesta, ele conseguiu harmonizar diversos aspectos: desde a numeração da residência até sua localização (através da radiestesia, descobriu o melhor ponto para fundar o seu Oratório e, com isso, melhor aproveitar as energias telúricas).

Dada a hora e tendo consagrado o incenso de olíbano, Lúcio fez a abertura do ritual.

Em dado momento, não sentia mais os membros; a noção de “embaixo” e “em cima” era inexistente; a noção de tempo e espaço era cada vez mais imperceptível.

Foram necessários muitos anos até que seu coração não acelerasse mais e a concentração não fosse interrompida diante do insólito. A manutenção deste estado exige uma certa frieza.

Nas antigas Escolas de Mistérios, no Egito, existiam provas físicas, com o objetivo de testar a resistência emocional do candidato, que era submetido à diques de água, corredores de fogo, altura, longos períodos em vigília, etc. A maior parte delas, realizadas no interior da grande pirâmide.

Tendo superado os primeiros obstáculos, Lúcio foi ascendido a uma misteriosa morada.

Do hall de entrada, pode perceber uma grande e rústica escada, que conduzia ao segundo pavimento.

Ele subiu, lentamente, degrau por degrau. Enquanto subia, olhava para as paredes laterais. Pode observar diversas ilustrações com temas místicos e símbolos herméticos. O aroma, assim como todo o ambiente, era muito agradável.

Já no segundo pavimento, de frente para a escada, percebeu que haviam quatro portas, com quase três metros de altura. Eram de madeira maciça, cor de tabaco escuro.

Lúcio, tateando a primeira porta, tentou abri-la, sem sucesso. Então, lembrou-se de um sonho que tivera, noites antes: ele se via diante de uma porta e alguém lhe sussurrou sobre como deveria bater, para que fosse aberta.

Seguindo as orientações do Instrutor Desconhecido, bateu à porta. Imediatamente após a última batida, eis que ela franqueou a entrada, revelando-lhe uma misteriosa luz que preenchia todo o espaço. Ela não provinha de nenhuma fonte humanamente conhecida (velas, lâmpadas, etc). Simplesmente, existia.

Ele adentrou, lentamente, na câmara enigmática. Uma atmosfera de paz e bondade prevalecia naquele lugar.

Bem ao centro, havia uma cadeira. Meio que instintivamente, Lúcio sabia que deveria sentar-se ali. E assim o fez. Diante dele, próximo a parede, uma mesa e três cadeiras robustas com estofado na cor bordô. Sobre a mesa, uma toalha branca. Atrás do conjunto, uma porta.

Permaneceu imóvel, sentindo o ambiente.

Enquanto observava os detalhes, viu entrar três homens pela porta atrás da mesa. Eram todos muito altos. O mais baixo, aparentava ter 1,90m. O mais alto, certamente mais de dois metros. Seus olhares eram todos parecidos: uma combinação incomum de poder e humildade. Vestiam uma túnica alva, com capuz.

Os três tomaram os seus lugares. O do meio sacou uma espada em forma de cruz e colocou-a sobre a mesa. O da direita, um cálice de Ouro; O da esquerda, uma espécie de incensário. O olhar de Lúcio foi atraído pela espada, que era de prata com detalhes em ouro.

Em seguida seu olhar ergueu-se para o homem do meio, que retribui-lhe um discreto sorriso, transparecendo um sentimento venturoso por estar recebendo-o naquela câmara, e proferiu:

– Seja bem vindo, Lúcio. Muito nos alegra em recebê-lo.

– Você deve estar se perguntando quem somos e o motivo da sua presença neste lugar sagrado.

Lúcio aquiesceu com a cabeça e preferiu permanecer em silêncio. Pois, estava extremamente deslumbrado com toda a situação.

– Vivemos entre os Homens. Portanto, nossos nomes não devem ser revelados.

– Levamos uma vida, aparentemente, comum: temos emprego, família e desfrutamos de momentos de lazer. O que nos diferencia da maioria é que estamos alguns passos à frente na escala de desenvolvimento espiritual. Somos o que muitos denominam de “Mestres Visíveis”. Mas, apesar de “Visíveis”, somos Incógnitos.

– Nossa função no mundo é a de Orientar aqueles que apontaram evidências de um certo avanço espiritual, de forma consistente e regular. O início desse processo ocorre através de pequenos lampejos na consciência. É o sinal de que a transmutação espiritual está nos seus primeiros estágios.

– O que tem causado muita confusão é a de que este progresso está relacionado ao acúmulo de conhecimento e ao florescimento das faculdades psíquicas. Ora, estas são ferramentas, acessórios, de algo muito mais profundo. Ou seja, a realização espiritual não é consequência, pura e simplesmente, de uma aguçada atividade mental. Mas, está relacionada ao querer e ao realizar da nossa majestática missão: a Unidade com Deus.

– É uma realização que desconhece linhagens, títulos, diplomas e templos, de qualquer natureza. Pois, a verdadeira Iniciação não é transmitida por mãos humanas. É um processo diário de Sutilização.

– Mas, as Religiões, Organizações, Ordens Iniciáticas e Sociedades de Estudo têm o seu valor. Foram e são fundamentais na perpetuação do Conhecimento e na investigação das Leis Espirituais. O problema reside em hierarquizá-las como exclusivas representantes da Verdade.

– Outro equívoco a ser evitado é a procura por fórmulas. Muitos desejam que outros lhes digam o que fazer e, principalmente, como fazer (de preferência, sem esforço).

– O trabalho espiritual é único para cada Ser. Pois, cada pessoa tem o seu próprio carma, suas próprias lições a serem aprendidas. Ainda que o objetivo maior seja o mesmo.

– Veja, você, Lúcio. Uma alma antiga, cuja obra de sublimação intercorre à séculos, com início anterior à Era Cristã. Cada escolha que fizeste em vidas predecessoras determinaram o seu estágio atual.

– A região em que nasceu, sua vitalidade, capacidade de aprendizado, aparato psíquico e talentos diversos foram determinados por séculos de existência. E não, como muitos imaginam, unicamente pelos esforços desta existência.

– Uma sucessão de eventos o trouxe até aqui, à nossa presença. Considere este evento como um marco significativo em sua jornada. Um novo ciclo se inicia. E, com ele, novas responsabilidades.

Neste momento, uma breve euforia envolveu Lúcio.

– Daqui por diante, você estará sob a nossa cobertura, caso aceite as condições que iremos expor.

Após ouvir, uma a uma, Lúcio consentiu em todos os requisitos. Em seguida, os três Mestres se aproximaram, formando um triângulo, tendo Lúcio como ponto central.

Nenhuma palavra foi proferida, nenhum gesto rompeu o ar. Mas, Lúcio sentiu uma vívida energia envolvendo-o.

A posição de cada um foi desfeita. À Lúcio, foi solicitado que permanecesse de joelhos. Um Mestre posicionou-se ao lado direito dele e, outro, do lado esquerdo. O do meio, empunhou a espada e posicionou-se à frente de Lúcio.

Após proferir algumas palavras em um idioma desconhecido, fez um movimento com a espada, traçando um símbolo no ar.

Decorreu-se mais alguns movimentos e declamações ritualísticas.

– Irmão Lúcio, fostes recebido como um Neófito neste novo estágio. Que todos os compromissos assumidos aqui sejam honrados integralmente, sob a pena de cair sob a ação dos Senhores do Carma!

– Você recebeu o influxo necessário para discernir e realizar a sua missão.

– Em breve, nos encontraremos novamente.

Em seguida, foi realizado mais alguns movimentos ritualísticos, até que Lúcio se viu, novamente, sentado na cadeira ao centro da Câmara, tendo os Mestres se despedidos.

Lúcio fez o caminho de volta.

Ao abrir os olhos, já em seu Oratório, viu que a queima das velas já tinham se extinguido. No ar, apenas um vestígio de olíbano.

Ao repassar, mentalmente, tudo o que acabara de ocorrer, foi tomado por uma nova sensação de euforia, sucedida por um profundo sentimento de gratidão.

Uma nova etapa estava se iniciando…

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17 Replies to “Conto Hermético: Uma Aventura no Oratório”

Gleiton Jose Barbosa da Silva

Perfeito, não pude deixar de me
emocionar com este conto.

Daniel Fidélis

Estimado Ir Gleiton, que legal!

frank

É impreciso ante é emocionante só de ler o que você relatou a gente sente estar neste lugar cheio dê magia de luz algu divino difícil de esplica Abraços

antonio david dos santos

olha o comto e muito enteressante+presisa buscar o entendimento da verdade pois por meu emtender e pressiso ter muita fe e comciencia no que esta fasendo para que possa ter bom exito e se emtrega a prova pois e um caminho de decisão para se propio!

Marcio Silveira

A busca de si mesmo é sempre assim: surpreendente e impregnada de uma atmosfera acolhedora .Este clima de estar sozinho no seu cantinho chega a ser tão necessário quanto o ar nos pulmões. Aí, acho que conseguimos as conexões com o divino, o inefável, sem deixar de sermos normalmente humanos. É isso…abraço

Marília

Eu li e me inteirei de tal forma com o conteúdo que sei (interiormente) que um dia vivenciarei tal experiência. Estou a Caminho, mas ainda existem etapas a serem “queimadas”. Há de se ter muita paciência enquanto ainda aguardamos pelo grande Momento.

Ruy Marcondes Filho

Um conto bastante interessante e muito inocente! Abraços Ruy

Paula Quintão

Daniel, que lindo ler seu conto e ver a história se desenrolar diante de mim, cada um dos sentidos que provoca, das emoções. Maravilha você brindar seus leitores com essa partilha! Feliz por ver suas palavras ganharem asas tão lindas!

Daniel Fidélis

Olá, Paula! Que satisfação recebê-la por aqui. Obrigado por prestigiar.

Luís Carlos Gomes Medeiros

Quando conseguimos harmonizar, por completo, nosso ser com o Todo essses encontros ou contatos acontecem verdadeiramente, mesmo que por vezes não tenhamos consciência ou lembrança disso.

Lindemberg Pereira dos Santos

Adorei a história!
Me recordei dos primeiros passos que dei nos estudos alquímicos inclusive. Sem contar com o momento do desdobro e a ida ao sanctum celestial semelhante à concepção do Sanctum Celestial. Correto, frater Daniel?

Denise

Um conto bem profundo e revelador,uma experiencia ritualistica avancada a meu ver.

Raikson::

gostei muito, a história do inicio da caminhada da transcendência lindamente narrada com riqueza de detalhes, projeta o leitor ao local onde se passaram os fatos, muito grato.

Alfredo Ramos da Silva

Ola prof.e um conto muito mas muito profundo,senti na alma esta iniciação,GRATIDÃO…GRATIDÃO

Daniel Fidélis

Obrigado, Alfredo!

Lane

Que lindo conto!! Abraços! ::

Rostenio Rodrigues de Oliveira

A igreja me influenciou darante a infância, eu achava que magia é ruim, hoje conheço a teurgia, e magia branca, estou apaixonado pela magia, agradeço ao Daniel meu mestre, já faço telepatia com animais, consegui um retorno nas práticas.

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