Cagliostro, a Maçonaria e o Rito Egípcio - Alquimia Operativa

Esoterismo

Cagliostro, a Maçonaria e o Rito Egípcio

Daniél Fidélis ::
Escrito por Daniél Fidélis :: em 12/10/2022
3 min de leitura
Cagliostro, a Maçonaria e o Rito Egípcio
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Este artigo sobre Cagliostro foi escrito por François Ribadeau Dumas, um estudioso das Ordens Iniciáticas. É autor de inúmeras obras sobre o esoterismo, com especial destaque para as biografias de seus mais influentes líderes.

Dumas é considerado um dos maiores especialistas sobre Cagliostro.

Breve Histórico de Cagliostro

Para uma justa compreensão da teurgia de Cagliostro, convém que consideremos seu tempo, aquilatemos as tempestades que precederam a Revolução, numa época em que o liberalismo, a ciência, a filosofia, uniam-se no movimento reformador, enquanto se desenvolvia o Iluminismo – o que poderia parecer uma oposição, até mesmo uma contradição, quando se tratava de fato de uma complementaridade tão exaltadora num sentido quanto no outro.

Eles me perguntam quais são as provas de minha missão; meus testemunhos são prodígios, meus defensores minhas virtudes, uma via intacta, um coração puro.

Cagliostro (A Mais Sana Trinosofia)

Sim, pode-se estabelecer que foi com paixão que, naquele momento de renovação, tomaram impulso as grandes escolas das Fraternidades Rosacruzes e Maçônicas, que preparam Cagliostro – um enviado brilhante dos cenáculos onde se forjava um mundo ideal.

Mas nem por isso iremos omitir o taumaturgo, aceito como frequentador dos círculos aristocráticos, brilhando nos salões do duque de Montmorency e do Cardeal de Rohan, Grande Capelão de França. Lá encontramos as testemunhas, os atores, os comparsas espantosos daquele que foi conhecido em vida como o “divino Cagliostro”.

Seus ancestrais, sua família, destinavam o jovem Joseph Balsamo – seminarista em Palermo e jovem monge dos Benfratelli do convento de Caltagirone – a um fabuloso destino, orientado pelos rosacruzes da Ilha de Malta, encantados com o reencontro de um dos seus.

Um certo Giacomo Balsamo tornou-se ilustre sob o reinado de Ferdinando, o Católico. Um Pietro Balsamo, marquês da Limínia, foi Senhor de Messina. Um Francesco Balsamo foi dono do principado de Castellaci. Um Giambatista Balsamo foi protonotário do Reino. E por seus ancestrais maternos, os Cagliostro e os Martello, orgulhava-se de um Grão-pior de Messina da Ordem de Malta em 1618 e de outros membros da Fraternidade Rosacruciana.

Tais parentescos fizeram-no ser afetuosamente recebido, em 1866, pelo Grão-mestre de Malta, Don Manoel Pinto da Fonseca, um personagem pitoresco que chamava o rei de França de “meu primo”, e que portava uma coroa fechada. Foi confiado a um instrutor de qualidade chamado Althotas.

Bem instalados em Malta por Carlos V em 1525, os Cavaleiros Hospitalários de São João de Jerusalém, herdeiros dos Templários, devotavam-se à fraternidade e nutriam afeição pela Rosa-cruz, vinda da Inglaterra, onde Michel Maier e seu discípulo Robert Fludd fizeram-na prosperar, e da Alemanha, país de Christian Rosenkreutz, grande iniciador.

Muitos Reformados foram rosacruzes. Jacques Roos escreve em seu livro Mysticisme philosophique au début du Romantisme – Misticismo filosófico no início do Romantismo (Heitz, Estrasburgo, 1951), que o tsar Alexandre I da Rússia, o rei da Prússia, Frederico Guilherme II, o príncipe Henrique da Prússia, Ferdinando de Brunswick, grande chefe da Maçonaria alemã, assim como o rei Gustavo III da Suécia, eram fervorosos rosacruzes.

Na Holanda, Descartes frequentou uma importante colônia de rosacruzes que mesclavam a Alquimia e a mística.

É exatamente o que reporta Jean-Pierre Bayard em sua Symbolique de la Rose CroixSimbolismo da Rosa-cruz (Payot, Paris, 1976): que “as manifestações da Rosa-cruz no século XVIII foram muito importantes e numerosos espíritos foram impregnados por este pensamento”.

Assim aconteceu na ilha de Malta onde, por instigação do Grão-mestre, apaixonado pelo ocultismo e pela alquimia, três elementos maiores e totalmente determinantes vão moldar o espírito e a ambição do jovem Giuseppe Balsamo, tornado, graças ao seu batismo iniciático, Alexandre de Cagliostro:

  • A cruz de Malta e Templária;
  • A Rosa-cruz de cinco pétalas;
  • A Grande Obra da Alquimia.

Esses ensinamentos básicos alimentaram, impregnaram, absorveram o iniciado, aberto a essas noções sublimes.

Cagliostro e o Rito Egípcio

Uma outra corrente essencial, também ela geradora fecunda, por seu fermento de calor e de encantamento, aparece e exalta o temperamento do jovem iniciado: o Islã.

Em Palermo, onde ele nasce de pai comerciante, sopram os ventos africanos, que propagam uma estranha propensão a manter os aportes profundos da civilização oriental que permanecem na ilha da Sicília. É a tradição muçulmana, solidamente ancorada nos palácios e jardins embalsamados.

Os árabes, de fato, conquistaram Palermo ao mesmo tempo em que a Espanha. Em 948, a capital da Sicília é elevada à dignidade de Emirado. É comparada ao Cairo e Córdoba. A igreja de São Cataldo foi construída em 1160 no estilo muçulmano; suas três cúpulas realçadas, suas arcaturas, suas ogivas, são nitidamente orientais. Podem-se ler nelas, gravados, versículos do Alcorão. E o jovem Balsamo (Cagliostro) impregna-se desse espírito.

A catedral, construída em 1185 sobre uma antiga mesquita, comporta três pórticos sobre sua fachada: um pórtico cristão com o Novo Testamento e Jesus, um pórtico judeu, com os profetas e os reis do Antigo Testamento e um pórtico mourisco, com Abraão e Maomé. A cruz, a estrela de Salomão e o crescente, como em São Tiago de Compostela.

No Palácio, a torre Pisana é uma sobrevivência árabe. Na capela Palatina vêm-se vestígios árabes. A igreja de San Giovanni é ornada por cinco cúpulas orientais. Nas cercanias de Palermo, o convento dos Capuchinhos, a Cuba, construído em 1180, é obra de artistas construtores e decoradores muçulmanos. Está cercado por palmeiras.

Finalmente, o castelo Ziza, de aziz que significa “esplendor”, é uma bela morada do Oriente. E todas as legendas das Mil e Uma Noites os aureolam, num mística vinda de Meca.

Naqueles tempos de civilização árabe, tão brilhante na Espanha, ensinava-se a tolerância – uma tolerância que admitia tanto o pensamento cristão quanto o judeu. Os árabes souberam admiravelmente deixar que se desenvolvessem os impulsos da filosofia, da ciência dos grandes mestres judeus.

E na França, Pedro, o Venerável, Abailard e os monges de Citeaux não desprezavam a cabala. Esta compreensão será encampada pelos rosacruzes que buscaram a aproximação das três igrejas: a igreja cristão, a igreja árabe e a igreja judaica – se é que podemos chamar assim ao bom entendimento, como em Jerusalém, da capela, da mesquita e da sinagoga.

Um belo dia a Inquisição, que executou duramente o arabismo e o judaísmo, erguer-se-ia contra os rosacruzes da Alemanha, aliados aos protestantes da Reforma.

Quando, em dezembro de 1789, os esbirros de Pio VI detiveram o infeliz Cagliostro em Roma, aonde ele fora imprudentemente, na maior boa-fé – e seu processo duraria três anos – os juízes lançaram sobre ele numerosas acusações. É recomendável ler-se os autos do processo, publicados pelos jesuítas encantados.

De fato, todos esses sinais que acabamos de expor, encontram-se na teurgia de Cagliostro, taumaturgo do Rito Egípcio. Por que egípcio? Inicialmente porque o egipcianismo está em moda neste fim de século XVIII. Leem-se obras sobre o Egito.

Em seguida considera-se o Alto Nilo como o berço da Sabedoria e da Iniciação hermética. Hermes Trimegisto, como Moisés, surgiu do Nilo, na grande tradição esotérica dos ritos de Osíris ressuscitado e de Ísis, a magia, aleitando seu filho divino, Osíris tornado Hórus, de onde a cristandade extrairá a imagem da Mãe e do Menino. Os monges farão dela uma Virgem.

É bastante curioso notar-se que os juízes criticavam o mago por nunca ir à missa, por não usar sacramentos, por nunca invocar Jesus, mas os profetas da Bíblia e as potências da cabala. Judeu? Árabe? – arrotavam os Inquisidores.

E não dissera ele: “Nasci em Medina”, imitando nisto o Mestre Christian Rosenkreutz, que declarara ter-se iniciado quando de suas viagens à Arábia. É aí que nascem as tramas misteriosas, as lendas dos livros de bruxaria, que cercaram a alquimia e a Rosa-Cruz. Onde começa a realidade, onde acaba o sonho?

Estamos em plena época da Revelação. As Fraternidades espiritualistas estão por toda parte. A rosa das Índias sobre a cruz crística, os milagres de Jesus e dos profetas. Tudo vem da Luz do Oriente.

Cagliostro e a Maçonaria

Não podemos deixar de mencionar as longas viagens feitas por Cagliostro entre 1776 e 1780, como emissário da Rosa-Cruz maltesa, que lhe forneceu os subsídios necessários.

Iniciado maçom em Londres em 1777, ele é recebido com uma bateria de malhetes pelos rosacruzes da Europa, os Franco-maçons, os neotemplários e os Iluminados da Baviera, sempre sob o túnel de espadas e urras.

Brilham então os ritos estranhos da Nova Jerusalém de Swedenborg, as visões celestes do beneditino Dom Pernéty, as evocações mágicas de Martinez de Pasqually, poderosos mestres esotéricos, Superiores Desconhecidos, com incontestáveis poderes de clarividência e necromancia.

São eles que formam o místico taumaturgo que foi Cagliostro. Essas três escolas dominam, de fato, a espiritualidade do século XVIII.

Deve-se destacar também que, surpreendido pelo número dos ritos, Cagliostro concebeu o projeto de reuni-los sob uma única autoridade, numa Loja Mãe de União e de Fraternidade, de Sabedoria triunfante, enfim, sob o vocábulo de Osíris e de Ísis.

Porque em última análise o que as Lojas idealizavam era a regeneração, graças à convocação das Potências seráficas, dos Anjos intermediários e dos Profetas reencarnados ou fantasmagoricamente visíveis, vindos do além.

Depois, adivinhação com a vidência no cristal, à maneira dos sacerdotes egípcios na pirâmide (é necessário ler o Livro dos Mortos), e se opera a reintegração no Éden, com os poderes de Adão Kadmon.

Esta ambição – insistentemente exaltada pelos Profetas, por São João – do homem, resgatado do pecado original por Súplicas ao “Grande Deus” dos egípcios, com preces e fumigações, prosternações, iluminações.

Toda uma magia cerimonial, à qual é espantoso ver-se submeter um prelado e príncipe da Igreja como o Cardeal de Rohan – ele, que qualificou Cagliostro de “divino”.

A esta imagem do mago cercado por pesadas nuvens de incenso e por seus adeptos esclarecidos e maravilhados, em plena acepção da palavra, por esta glória que durou quase dez anos, superpondo as imagens de sua prisão em Roma, seus intermináveis interrogatórios infamantes – “chegaram mesmo a torturar-me”, comentaria – sua abjuração na praça de Minerva, diante do obelisco, o que é bastante curioso, pois a prisão do castelo Santo Ângelo (seria o Anjo o imperador Adriano, ou o belo Antinous, que lá seria enterrado?), depois sua cela da fortaleza Santo Léo, onde finalmente ele foi estrangulado em 28 de agosto de 1795, sendo suas cinzas espalhadas, porque com os profetas, nunca se sabe… Um pesadelo.

François Ribadeau Dumas.

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4 Replies to “Cagliostro, a Maçonaria e o Rito Egípcio”

Jozenaide Alves Gomes

Gostei muuuuito. Um passado sendo descortinado e trazendo para muitas pessoas, como eu o conhecimento.
Muito obrigada!

Daniél Fidélis ::

❤️

Josecy de Lima Aquino

Sensacional Sou Fã e Admirador da Obra e dos Feitos Desse ser Divino
Chamado Cagliostro
Grato Pelo Privilégio …

Daniél Fidélis ::

❤️

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