Desde o princípio dos tempos, o ouro exerce forte fascínio ao olhar humano.
Nenhum outro metal exerceu influência tão forte e duradoura sobre as civilizações antigas, nem foi tão associado à luz divina e ao poder dos deuses.
- Mais do que riqueza material, o ouro sempre simbolizou a substância do Sol na Terra, o símbolo do espírito inviolável e da consciência iluminada.
Este artigo percorre a senda solar do ouro: sua pureza natural, sua utilização sagrada entre reis e sacerdotes, e seu lento rebaixamento em objeto de cobiça, até tornar-se espelho do destino humano diante da luz e da sombra.
🜚 O Ouro e sua Natureza Eterna
O homem se sente atraído pelo ouro como o mais precioso de todos os metais produzidos pela Terra. Nós o consideramos como a coisa mais cara e mais valiosa que existe.
O ouro é diferente dos outros metais; não combinará, de modo geral, com outros metais (com exceção da prata, para formar o electro, usado pelos povos antigos da Ásia Menor).
Além disso, o ouro não se deteriora e não se degenera; os tesouros de ouro da América do Sul, do Egito, da Pérsia, da Índia e da Gália antiga, não têm milhares de anos, ainda são tão encantadores quanto no tempo em que foram criados pelos grandes artistas.
Desde os tempos mais antigos, o homem tem feito ornamentos e utensílios de ouro para deuses e reis.
- O costume de adornar o altar com um Sol de ouro é realmente muito antigo.
Os incas do Peru e os astecas do México davam a ele uma significação sagrada, e esse simbolismo ainda sobrevive nas igrejas cristãs do Ocidente.
O ostensório tem a forma de um Sol radiante. Serviços de mesa feitos de ouro sempre deram esplendor aos grandes banquetes da nobreza.
O símbolo do poder supremo, a coroa de ouro, é uma honra reservada para os reis. A história fala inclusive de sarcófagos reais cobertos com folhas de ouro, como o de Tutancâmon, o faraó egípcio.
Por que o ouro deveria despertar tamanha reverência? Simplesmente por causa da sua beleza resplandecente e permanente? Não, mas sim porque o ouro é o metal do Sol.
Em essência, ele está relacionado com o Sol, o grande dispensador da vida do nosso universo. No mundo dos metais, o ouro é a energia solar substanciada.
Ele forma o ponto central desse reino, do mesmo modo que o Sol é o centro de seu próprio sistema.
👑 O Ouro e o Poder Solar dos Reis
É por isso que ligamos o ouro a figuras centrais, tais como o governante ou o sumo sacerdote, que são os representantes e os símbolos do Sol na Terra.
- A coroa do rei deve ser feita de ouro porque ela representa o fluxo de energia que desce do Sol e penetra nessa cabeça real.
Ao mesmo tempo, ela age como um condutor de energia. Desse modo, o governante fica intensamente carregado com uma força que ele então pode distribuir entre o seu povo, a terra e o gado, para fazer com que sejam férteis e para trazer felicidade mútua, saúde e beleza.
O rei senta-se num trono de ouro e segura em suas mãos o cetro de ouro – símbolo masculino – e a esfera de ouro – símbolo feminino.
Ele divide a grande força única e a transmite ao reino da dualidade.
As inúmeras pedras preciosas que adornam a coroa e também o trono atraem as forças preciosas que adornam a coroa e também o trono atraem as forças planetárias, a fim de que cada um dê sua própria contribuição. O ouro une essas forças.
O ouro traz a energia do Sol para o homem, para que ele a leve consigo aonde quer que vá. O ouro torna-nos corajosos, fortes e generosos, como o próprio Sol. Ele dá autoconhecimento, autoconfiança e vigor.
Daí o velho costume existente entre povos de muitas nações, de usar brincos, braceletes, anéis, colares e broches de ouro.
As camponesas da Holanda usavam os chamados enfeites de orelha: faixas douradas usadas sobre os cabelos e sob a touca de fina renda, através da qual se podia vê-las brilhar.
Aos domingos, especialmente na Zelândia, elas usavam pequenas espirais de ouro presas à fita que envolvia a cabeça, logo acima das orelhas. Isso, em conjunção com as quatro fieiras de contas de coral, presas com um feche de ouro e usadas em torno do pescoço, tomava esse simpático povo carregado de força vital.
Acredita-se atualmente que os brincos de ouro dos pescadores asseguravam um enterro decente ao marinheiro que se afogasse num naufrágio, caso seu corpo fosse arrastado para a praia.
Numa época anterior, porém, os homens tinham um conhecimento muito maior. Eles furavam os lóbulos das orelhas e, com um brinco, mantinham os furos abertos para favorecer a expulsão de substâncias impuras do corpo.
Nem sempre os homens se preocuparam exclusivamente com o lado econômico das coisas!
Nos países da América do Sul, onde desde tempos bem antigos tem sido encontrada uma enorme quantidade de ouro, muitos objetos de uso cotidiano, tais como pratos, copos e travessas, eram feitos de ouro, para uso das pessoas abastadas.
Eles chegaram até mesmo ao ponto de usar placas de ouro para gravar o alfabeto. E a história foi registrada em grandes páginas douradas.
⚖️ O Ouro na História e a Queda de seu Simbolismo Sagrado
Quando Cortez topou com o reino asteca, a princípio os índios o tomaram por um deus saído das suas profecias e perguntaram a ele o peso exato do rei e da rainha da Espanha, uma informação que Cortez não pode fornecer.
Os índios contaram-lhe que precisavam saber isso para poder oferecer como presente, para o rei e para a rainha, uma chapa de ouro de acordo com o peso deles, que os carregaria através dos ares tal como os reis e sacerdotes astecas.
Hoje em dia, os turistas têm tal entusiasmo pelos esplêndidos objetos de ouro vindos do passado, que os índios que trabalham em ourivesaria, e que ainda hoje têm a mesma habilidade, fazem cópias dos objetos originais e os vendem.
Isso está relacionado com a luta inicial dos índios pela independência, quando quiseram tentar escapar da tirania e da exploração dos espanhóis, depois de suportar tudo isso durante tanto tempo. Os que são muitos pobres conseguem algum dinheiro extra cavando e saqueando tumbas antigas, em busca de objetos de ouro que costumavam ser enterrados com os mortos.
Embora o ouro ocorra naturalmente em todo o globo, hoje ele existe em apenas umas poucas áreas onde a mineração é considerada compensadora.
O continente Africano é o mais rico em ouro. Muitas vezes ele é chamado de leão, pois Leo é o signo do zodíaco regido pelo Sol. O negus da Abissínia tinha sempre um leão sentando-se ao lado do seu trono: o Leão de Judá, símbolo do poder real.
O antigo Egito foi a principal área produtora de ouro da África, particularmente a Núbia (nub = ouro).
Mas tarde, os tronos e sarcófagos dos faraós atraíram os olhos cobiçosos dos conquistadores persas, que vieram, pilharam o ouro e o utilizaram, entre outras coisas, para fazer moedas de ouro com uma imagem do Deus Sol gravada.
Só muito mais tarde é que conquistadores como Alexandre o Grande teve a própria imagem gravada em moedas.
Também a Espanha sempre possuiu ricas minas de ouro, e os romanos empregaram uma média de 60.000 escravos para trabalhar nelas.
Na Gália antiga, havia enormes quantidades de ouro nos santuários dos druidas, erguidos nas florestas – mas os romanos os saquearam. A natureza prática dos romanos não se limitava a valorizar o ouro simplesmente por sua beleza, nobreza e poder solar; eles precisavam do ouro como dinheiro, para pagar seus exércitos, conquistar povos e estabelecer a Pax Romana.
Quando o Cristianismo já havia sido reconhecido oficialmente em Roma, trazendo consigo a abolição da escravatura, a aquisição de ouro em áreas conquistadas cessou também.
Muito tempo depois disto, os homens começaram a cavar em busca de ouro nas montanhas da Europa: na terra dos Sudetos, na Hungria e na Silésia.
A ordem religiosa dos Cavaleiros Templários recolhia esse ouro, tornando-se então uma instituição bancária que emprestava ouro aos governantes para suas dispendiosas guerras. No fim, Felipe o Belo roubou o ouro dos Templários e, desse modo, pôs um fim ao poder da ordem.
Assim sendo, por volta da Idade Média, o ouro tinha degenerado numa tentação, provocando embriaguez e avidez insaciável.
- A grata aceitação desse presente vindo de Deus havia sido esquecida.
Logo vieram as viagens para a América dos caçadores de tesouros. Uma grande riqueza ainda está lá, no Museu do Ouro, em Bogotá, a capital da Colômbia: máscaras de ouro, ornamentos para o nariz, peitorais e até mesmo anzóis.
Os índios do Peru ainda conservam a coroa de ouro do último rei, e nas festas dos solstícios de verão e de inverno eles dançam suas danças do Sol bem no alto, nos picos nevados dos Andes, usando máscaras de ouro.
☀️ O Ouro Interior

O ouro das minas e dos templos é apenas reflexo do ouro invisível que habita o homem.
A verdadeira riqueza não está nas coroas nem nas moedas, mas na luz solar que cada alma é capaz de refletir.
Quando o buscador purifica seus desejos e desperta sua consciência, ele transforma o chumbo das paixões em ouro espiritual.
Assim como o Sol brilha sem se consumir, também o espírito humano pode irradiar sua própria eternidade.
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