Os Três Reis Magos - Uma Visão Alquímica

As representações artísticas que mostram a adoração dos Reis Magos é um assunto de interesse muito particular e rico de significado alquímico.

Dias depois do nascimento de Jesus, apareceram estes personagens para adorá-lo e oferecer alguns presentes.

Os restos mortais dos reis magos, após serem encontrados por Santa Helena, em Saba, viveram em agitadas viagens por toda a Europa, até que repousaram finalmente na catedral de Colônia.

Análises na ossada, revelaram que um deles era idoso, outro em meia idade e o terceiro, mais jovem que os outros.

Segundo a tradição, os presentes consistiam em: ouro, incenso e mirra. Esse “incenso” é o que chamamos hoje de “olíbano”, também conhecido em algumas regiões como franquincenso.

Neste artigo, vamos desvelar o sentido oculto destes personagens e de suas oferendas. Evidentemente, de um ponto de vista pessoal, que pode, naturalmente, ser complementado por outra interpretação.

Devemos ter em mente que um grande número das representações do Nascimento de Jesus e da Adoração dos Magos aparece de forma independente e desvinculada de alguns dos elementos que são comuns em outras ilustrações.

Por exemplo, não é habitual que apareçam nem o presépio, nem o asno, nem o boi.

O recém-nascido costuma aparecer no colo da Virgem e junto a São José para indicar a sua origem, ainda que às vezes apareça somente a Virgem com o menino.

Os três Magos apresentam as suas ofertas em certa ordem, que, certamente, tem um significado. Algumas vezes, aparecem sinalizando uma estrela acima da criança.

Vejamos algumas imagens com essas representações.

A primeira, descreve o que acabamos de indicar acima.

Abaixo, um afresco da “Catedral da Basileia, Suíça, do século XI ao XV”. Ao lado, um mosaico do “Batisterium de São Giovanni, em Florença, ano 1240”. Em ambos, podemos observar a ausência do presépio, do asno e do boi.

Os Nomes dos Reis Magos

Vejamos o significado dos nomes dos três Reis Magos.

Apesar de que os armênios supõem que foram 12, o número atual de três parece que se deu ao Papa Leão I, que no século V estabeleceu o número de três de forma definitiva.

Quando são denominados “Magos”, não se refere ao conceito de feiticeiro, mas como “homens instruídos”, “homens sábios” ou, ainda, membros de uma casta sacerdotal.

Segundo um texto do século V chamado “Excerpta Latina Barbari”, os reis são chamados Melichior, Gathaspa e Bithisarea.

Mas foi em meados do século VI, em Ravena, na Itália, quando lhes assinalaram os nomes atuais: Belchior (ou Melchior), Gaspar e Baltasar.

Melchior: Appellicon em grego e Magalath em hebreu; Gaspar: Amerin em grego e Galgalath em hebreu; Baltasar: Damascon em grego e Serakin em hebreu.

Simbolismo alquímico dos presentes

Na presença do recém-nascido, Belchior (Melchior) ofereceu Ouro; Gaspar, Incenso (Olíbano); Baltasar, Mirra.

O ouro simboliza a natureza Real, o poder material, o estado de perfeição.

O incenso simboliza a natureza divina, o poder espiritual e sua conexão com os planos superiores.

A mirra simboliza a morte, o poder de vencê-la, a imortalidade.

A simbologia destes presentes parece coincidir com as propriedades atribuídas à Pedra Filosofal.

O ouro é o equivalente à possibilidade da transmutação de todos os elementos em ouro, é o pó de projeção.

O incenso equivale à medicina integral ou total, à possibilidade de se obter uma natureza divina e livre de enfermidades.

A mirra simboliza a fonte da juventude permanente ou eternidade, que nos permite transcender a morte. Foi uma das resinas utilizadas pelos egípcios no processo de mumificação.

Considerando o significado acima, podemos resumir o trabalho interno do Alquimista da seguinte forma:

• Eliminação das impurezas e o acesso a um nível elevado de consciência, mais refinado e puro;
• A busca pelo equilíbrio entre corpo (saúde), mente e vida espiritual;
• Transcender o tempo e o plano físico, ao vencer todas as provas e transcender o seu estado atual.

Trata-se de um trabalho a ser feito ao longo de diversos ciclos encarnatórios.

Outro elemento de profundo significado é a estrela. Foi ela que guiou os três reis magos até o ponto onde o menino Jesus se encontrava.

A estrela possui muitos significados dentro da iconografia esotérica, tanto do ocidente quanto do oriente. Mas eu gostaria de apresentar um significado pouco conhecido atualmente, mas que foi muito utilizado pelos alquimistas do passado:

A estrela representa a união do plano celestial com o plano terreno. Isso era representado pela união de dois triângulos, um com o vértice para cima e outro para baixo. E, no meio, uma estrela (mais posteriormente, ao longo do tempo, foi substituída por um ponto).

Em algumas ilustrações, podemos ver os três reis magos depositando suas coroas e suas oferendas junto ao menino, de modo que ele, ao final, terá as Três Coroas.

Alegoricamente está indicando uma operação realizada com a nossa Pedra Filosofal recém obtida, com o nosso Leão.

Trata-se das três cocções filosóficas com que se multiplica o poder da Pedra Filosofal quando terminada, em se manifestam todos os atributos das três oferendas.

Quando terminada, resta dar a direção adequada, para que se converta no Pó de Projeção.

Vejamos mais duas ilustrações:

Na “Adoração dos Reis”, de Luis de Morales, vemos perfeitamente duas estrelas acima da Virgem, uma maior que a outra, enquanto os magos depositam suas coroas aos pés do menino.

Em “The Katherina Hours”, podemos ver uma estrela grande e em seu interior outra menor. Da mesma forma, os magos depositam suas coroas, e em ambos notamos a ausência do asno, do boi e do presépio.

A retirada das coroas também pode representar um gesto de humildade, ao reconhecer o menino como um Rei Superior a todos os outros.

Essas duas estrelas representam a união, a concórdia dos opostos (Sol e Lua; Fogo e Água; Céu e Terra).

Uma curiosidade: o alquimista Fulcanelli denomina o Mercúrio Filosófico como a Estrela dos Sábios.

Muitos alquimistas consideram o Cristo como a verdadeira Pedra Filosofal, capaz de nos proporcionar elevação espiritual e vida eterna.

A comunhão espiritual com essa Pedra proporciona a sutilização do alquimista.

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