A Alquimia e o Século XVIII - Alquimia Operativa

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A Alquimia e o Século XVIII

Daniél Fidélis ::
Escrito por Daniél Fidélis :: em 22/07/2014
2,5 min de leitura
A Alquimia e o Século XVIII
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Atualmente, o século XVIII é citado na história como a idade do esclarecimento e da razão. O que nos foi deixado pela Renascença como herança intelectual floresceu na Idade Média com o surgimento de uma nova consciência e deu frutos no século XVIII.

A posição de poderio espiritual da Igreja, que por tanto tempo impregnou a vida na Europa, fora interrompida e abriu-se caminho para novos pensamentos e conhecimentos que se basearam totalmente na razão e na observação da natureza, algo primordial aos Alquimistas de todos os tempos.

Quando uma época cultiva a sensatez dos pensamentos, a lógica e a capacidade de conhecimento no sentido humano como critérios superiores, então podemos deduzir que isso significa um obstáculo ou uma atitude hostil para com o esoterismo.

Na verdade, o que ocorreu foi justamente o contrário.

Nessa época de racionalismo, lidava-se entusiasticamente com retortas alquímicas, com seções de espiritismo e com a aparição de fantasmas.

Procurava-se divulgar os mistérios da Cabala e, por toda parte, surgiram lojas secretas e ligações. Cada uma delas dizia ser a dona exclusiva da pedra filosofal. Os representantes desse outro lado da era de “sensatez” constituíam um barulhento grupo de aventureiros esoteristas que viajavam por toda a Europa em diligências velozes, da Rússia para a Itália, de corte em corte e de cidade em cidade, a fim de doutrinar à sua maneira as pessoas entendiadas que encontravam nos lugares visitados.

Era como se o esoterismo e a alquimia, em particular, tivesse se tornado um jogo de salão para os príncipes e nobres que sofriam de tédio crônico.

Numa observação mais atenta das imagens desse século XVIII, é muito difícil estabelecer os limites exatos entre o charlatanismo e o genuíno conhecimento e sabedoria. De resto, existe um fato que também nos dará trabalho no exame do esoterismo no século XIX: é que, no esoterismo, a verdade e a mentira, a autenticidade e a fraude às vezes estão tão intimamente próximas umas das outras que fica difícil distingui-las para alguém que não tenha a visão treinada.

Indubitavelmente, havia charlatães no século XVIII, que nada mais queriam ou podiam fazer senão cozinhar “sua sopa no fogo da tolice humana”.

Mas também houve personalidades que, de alguma maneira, estavam em contato com o conhecimento e o esoterismo autêntico e que, apesar disso, não conseguiram escapar ao fascínio da corte de Versalhes, o “sol” em torno da qual tudo girava naquela época.

Isso as levou, também do ponto de vista atual, para a penumbra e fizeram-se tantas suposições a respeito e foram escritos tantos textos, a favor ou contra, que hoje é quase impossível verificar o que era real.

Se o verdadeiro segredo é um dos sinais do esoterismo, então, ao menos no século XVIII, esse segredo obteve um brilho luminoso. Vamos analisar três personalidades, cada uma típica de sua época.

Franz Anton Mesmer


Franz Anton Mesmer
Franz Anton Mesmer

O médico Franz Anton Mesmer nasceu em 1734. Primeiro, estudou teologia durante dez anos para depois voltar-se para a Medicina. Ao que parece, logo cedo dedicou-se ao esoterismo, pois sua tese de doutorado versou sobre um tema astrológico. Entre os antepassados espirituais de Mesmer está Paracelso. Além disso, ele parece ter sido influenciado também pelo rosacrucianismo.

Mesmer estabeleceu a tese de que todo o universo era impregnado por uma energia até então não identificada, a qual ele denominou de magnetismo. Além disso, afirmou que todas as doenças são consequência de um desequilíbrio dessas energias, ou seja, que uma pessoa doente possui as energias em estado desarmônico. O doente pode ser curado se esse equilíbrio for restabelecido. Para tanto, é necessário que essa força desconhecida, misteriosa, seja introduzida no corpo da pessoa doente. Isso pode ser feito por intermédio de um magnetizador que possa captar essa energia cósmica como se fosse uma antena, deixando-a fluir pelo seu corpo, para então transferi-la para a pessoa doente. Mesmer, portanto, já defendia o que hoje é conhecido sob o conceito de “cura espiritual”.

Como Mesmer conseguiu demonstrar logo em seguida uma série de resultados de cura espetaculares, era mais do que natural que atraísse a inimizade dos médios ortodoxos, cujos meios mais tradicionais de terapia consistiam, em pleno século XVIII, na aplicação de clisteres e na sangria. Estes se sentiriam ameaçados por Mesmer. Esse constante conflito com a Escola de Medicina pertubou a vida de Mesmer, que foi acusado de charlatanismo. Do ponto de vista esotérico, Mesmer tinha, sem dúvida, o conhecimento correto, mas como ele o tornou público precocemente, sem o suficiente fundamento científico e de uma forma nem sempre apropriada, em última análise lhe foi negado o êxito e ele recebeu a fama de charlatão. Somente hoje suas teses voltaram a ser aceitas e utilizadas com sucesso, embora com outro nome.

Conde Cagliostro


Cagliostro
Cagliostro

O tipo dos viajantes aventureiros praticantes de alquimia, herméticos e ocultistas do século XVIII foi muito bem personificado por Giuseppe Balsamo, que também tinha o nome de Conde Cagliostro. Balsamo nasceu em 1743, em Palermo, e sua vida foi bastante agitada. Em suas viagens através da Europa ele fundou, junto com sua esposa, Lorenza Feliciani, inúmeras lojas secretas nas quais eram celebrados os mistérios que representava. Hoje já não há mais dúvidas de que Balsamo usava de fraudes e de pequenas mentiras. Mas, também é evidente que havia uma tendência para a verdadeira tradição. Os ritos celebrados nas lojas por ele criadas seguiam a tradição de Hermes Trismegisto e também as da antiga tradição egípcia.

Para valorizarmos corretamente o fato, precisamos saber que nos tempos de Balsamo a escrita hieroglífica ainda não havia sido decifrada e que, portanto, o conhecimento acerca da cultura egípcia e de tudo o que se relacionasse com ela era repleto de lacunas. O magnetismo pessoal de Balsamo era tão grande que ele conseguia fascinar pessoas de todas as posições sociais. Até mesmo personagens que representavam um papel relevante na vida intelectual do século XVIII se impressionaram com ele como, por exemplo, Lavater, que com ele se correspondia, e Goethe, que escreveu um drama a seu respeito, Der Grosse Kophta.

Cagliostro também tinha fama de ser vidente e profeta, o que se deve não tanto às suas forças mágicas mas muito mais à sua capacidade de sensibilidade psicológica e a sua elevada inteligência. Ele tinha a amizade de muitas pessoas importantes da sua época, e conhecia várias outras, inclusive o cardeal Rohan. Quando o cardeal foi profundamente envolvido no caso do colar, que entre outras coisas, deu origem à queda da monarquia francesa, Balsamo também começou a decair. Ele retirou-se para sua terra natal, a Itália, e foi preso em Roma pela Inquisição em 1795, morrendo na prisão.

Conde de Saint-Germain


Conde de Saint Germain
Conde de Saint Germain

Contudo, nessa época, a figura mais secreta de todas é, de longe e sem dúvida, o Conde de Saint-Germain. Dele não se conhece nem a data de nascimento nem a data da morte, e o enigma de onde teria vindo e para onde ia nunca foi resolvido a contento. Há numerosas lendas a seu respeito. Diz-se que falava várias línguas, entre elas, o árabe e o sânscrito. Possuía profundos conhecimentos de ocultismo, principalmente de alquimia.

No relato de seus contemporâneos, nos deparamos com a menção da sua intemporalidade. Num período de quase cem anos, várias pessoas do século XVIII mencionaram um encontro com ele, e todas afirmavam que sua idade devia oscilar entre quarenta e cinquenta anos. Ele era a pessoa de confiança de Luís XV, bem como de Luís XVI e de sua esposa, Maria Antonieta. Diz-se que viajou para terras distantes, não só na Europa, mas também para países do Oriente. Conta-se que foi visto na China, bem como na Índia. Segundo os teosofistas Saint-Germain foi uma personificação do Mestre do Sétimo Raio.

É claro que o século XVIII não se resume, apenas, a estas três personalidades. Mas, no âmbito deste artigo, vamos nos limitar a estes três.

Próximo artigo, onde damos continuidade:

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