O Trabalho dos Alquimistas Cristãos - Alquimia Operativa

Alquimia

O Trabalho dos Alquimistas Cristãos

Daniél Fidélis ::
Escrito por Daniél Fidélis :: em 03/03/2014
O Trabalho dos Alquimistas Cristãos
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O que choca lendo vários textos de alquimistas cristãos, é bem uma piedade, uma devoção exprimindo-se com uma sinceridade sem par. Os adeptos cristãos não deixam, isto é significativo, de fazer um paralelo operativo entre a Pedra Filosofal e Cristo. Eis a belíssima invocação que se encontra na Alegoria da Santa Trindade e da Pedra Filosofal de Basile Valentin:

Caro amador da abençoada Arte, oh! como a Santa Trindade criou a pedra filosofal de um modo brilhante e maravilhoso! Porque Deus Pai é um espírito e aparece entretanto sob a forma de um homem como diz diz o Gênese; assim devemos ver o mercúrio dos filósofos como corpo espiritual. De Deus pai nasceu Jesus Cristo seu filho, que é ao mesmo tempo homem e Deus e é sem pecado. Não era preciso que morresse, mas morreu voluntariamente e ressuscitou para fazer viver eternamente com ele seus irmãos e irmãs sem pecado. Também o ouro é sem mancha, fixo, glorioso, e podendo sofrer todas as provas, mas morre por seus irmãos e irmãs imperfeitos e doentes; e logo, ressuscitando glorioso livra-os e os acolhe para a vida eterna; ele os torna perfeitos, no estado do ouro puro.<span class="su-quote-cite">Basile Valentin</span>

Os adeptos não deixaram de dar uma dimensão alquímica à famosa fórmula evangélica: Eu farei minha Igreja sobre esta pedra; não perderam a ocasião de fazer um paralelo entre Cristo e o agente que – segundo eles – permite operar as transmutações.  Encontramos belíssimos testemunhos desta visão cristã das operações da Grande Obra em autores como o médico alquimista inglês Robert Fludd. Em seu Summum Bonum, ele exclamava:

A Rosa dos Rosa-Cruz é o sangue de Cristo com o qual nossos pecados foram lavados (João). É a rosa de Saron dos Cânticos dos Cânticos; é ela que orna o jardim secreto; é em sua base que foi escavado o poço das Águas Vivas; é a caridade de Cristo por aquele, que, segundo a palavra do apóstolo chega a conhecer, com todos os santos, o tamanho, o comprimento, a elevação e a profundidade; é o sangue até a efusão que nos permite resistir ao pecado.<span class="su-quote-cite">Robert Fludd</span>

Lutero, se bem que não tivesse ele mesmo praticado a alquimia, admirava-a. Por que? Porque a descrição precisa das fases que conduziam a matéria primitiva à transmutação metálica, revelava-se tão maravilhosamente apta a descrever o processo espiritual da morte e da ressurreição e descrever o grande mistério cristão da ressurreição dos mortos no fim do ciclo terrestre. Lutero dizia também apreciar a alquimia pelo motivo, para citar suas próprias palavras, “das magníficas comparações que ela nos oferece com a ressurreição dos mortos no dia do Julgamento Final.

Os alquimistas cristãos não hesitavam aliás em considerar a ressurreição prometida aos eleitos como uma verdadeira transmutação de todo ser humano (corpo e alma). É deste modo que tentaram interpretar este famoso versículo do Apocalipse:

…Ao vencedor, disse o Espírito Santo, eu darei o maná escondido e uma pedra branca, e sobre esse seixo um novo, que não é conhecido por ninguém, exceto daquele que o recebe.<span class="su-quote-cite">Livro de Apocalipse</span>

Incontestavelmente, a alquimia tradicional apresenta-se sob o seu aspecto de “oratório” – como uma ascese destinada a buscar a iluminação libertadora. A iluminação atingida pelo adepto acha-se descrita em uma série de textos, ao mesmo tempo belos e precisos. Do Tratado da Razão atribuído à Raymond Lulle, citaremos esta definição da Eternidade vivida pela consciência do adepto:

A grandeza está em Deus, mas esta grandeza é infinita (…) A duração está em Deus; mas esta duração é a eternidade…<span class="su-quote-cite">Raymond Lulle</span>

Valerá também a pena dar esta bela passagem do livro dedicado ao rei Luís XIII por P. de Mouilhet:

Eu tenho sempre pensado que não significa nada a excelência das coisas conhecidas ao preço daquelas desconhecidas; e que a Verdade se esconde em um abismo infinito de razão e de maravilhas.<span class="su-quote-cite">P. de Mouilhet</span>

Adquirir iluminação, significa para o alquimista escapar psiquicamente à inflexível dominação da alma pela matéria, achar uma saída do labirinto que encerra as aparências sensíveis. Um texto característico sobre este assunto foi tirado de um manuscrito alquímico grego conservado no Evangelho de Marcos, em Veneza. Aí se encontra esta comparação (corrente entre os gnósticos) entre a existência humana habitual e um labirinto:

…Ouviste falar, estrangeiro, de um labirinto

Que Salomão dispôs em seu espírito

E que ele fez construir com pedras agrupadas circularmente?

Este plano representa a disposição.

A forma e a estrutura por linhas fixas segundo a ordem lógica.

Vendo esta miríade de espirais do interior ao exterior, suas curvas esféricas

Que tornam a voltar em círculos, para cá e para lá, sobre elas mesmas

Aprende o curso cíclico da vida

Ao te serem manifestadas as curvas escorregadias de seus caminhos tortuosos

Por suas evoluções esféricas, circulares,

Eles enrolam-se sutilmente em espirais compostas;

Como a serpente perniciosa, em suas ondulações, rasteja claramente ou em segredo

Há uma porta oblíqua e de difícil acesso.

Por mais que corras de fora querendo te soltar

Mas ela própria, por suas voltas sutis enfia-se no interior

Para a profundeza da saída.

Ela te seduz com seus meandros cada dia.

Ela te engana pela volta da esperança

Como um sonho enganador de visões vãs

Até que o tempo que conduz as cenas tenha fugido

E que o traspasso ai de ti! que conduz na sombra

Tenha te recebido sem te permitir atingir a saída.

Este texto toma sua ressonância efetiva se nos lembrarmos que os alquimistas alexandrinos, como todos os gnósticos, acreditavam na infernal repetição de vidas humanas em corpos físicos – de outro modo, para usar um termo tornado corrente no Ocidente, na atual época, nas sempiternais “reencarnações” da alma. Antes de poder se elevar à libertação espiritual o homem se acha sujeito aos duros renascimentos corporais.

Um adepto do século XX, Kamala-Jnana, recorda muito bem esta necessidade, em seu Dicionário de filosofia alquímica:

…Esta reencarnação ou reincorporação é a imagem de uma reencarnação nas esferas etéreas. Ora, como as multiplicações sucessivas repetem esses mesmos fenômenos depurando a Pedra cada vez mais, pode-se portanto, afirmar sem medo que a Grande Obra é a prova material de uma sucessão de reencarnações humanas (…) é pois graças ao magistério que o Adepto tem consciência do que representa o Macrocosmo, a vida e a morte na natureza. Ora, em virtude do adágio hermético que diz: O que está em baixo é como o que está no alto, o Adepto, pela Grande Obra conhece seu dever e não teme a morte… Ele sabe que um dia todos os homens serão salvos como sua Pedra o foi. Desse momento em diante, seu canto não será senão um cântico de ação de graças, subindo à seu Divino Pai a quem deve tudo…<span class="su-quote-cite">Kamala-Jnana</span>

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Serge Hutin

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