A Escola de Elêusis - Alquimia Operativa

Esoterismo

A Escola de Elêusis

Daniél Fidélis ::
Escrito por Daniél Fidélis :: em 24/05/2014
A Escola de Elêusis
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Esta Escola de Mistérios é referida como a mais antiga no mundo grego, e deve o seu nome à localidade onde se iniciou – Elêusis (hoje Lefsina). Embora os papiros de Derveni, achados em 1962, venham levantar a hipótese dos Mistérios Órficos lhe serem anteriores. Eventualmente, o mais provável foi terem coexistido temporalmente, cada uma atraindo os seus seguidores.

Baseia-se no Mito de Deméter e Perséfone (Ceres e Prosérpina no mundo Romano). Eis uma versão:

“No princípio dos tempos, havia na terra uma temperatura constante que permitia um ininterrupto crescimento da vida animal e vegetal, durante todo o ano. O que tornava o mundo perfeito, cheio de felicidade, beleza e abundância. A deusa responsável por tal domínio era Deméter que tinha uma filha encantadora, Perséfone, que era o seu orgulho e lhe alegrava o coração. Vivia feliz e isso refletia-se no modo como desempenhava as suas funções de deusa da agricultura, cereais e colheitas, mantendo o mundo em prosperidade.

Deméter e a filha estavam quase sempre juntas. Um dia Perséfone afastou-se um pouco para apanhar flores, quando Eros, deus do Amor, atirou uma seta ao coração de Hades, deus do mundo inferior, levando-o a enamorar-se de Perséfone, e a decidir que se casaria com ela, e que a faria rainha do seu mundo.

Quando Perséfone se debruçou para apanhar umas flores, logo se abriu uma cratera, donde emergiu Hades num carro puxado por dois cavalos pretos, que a agarrou e a levou consigo para o mundo das trevas.

Perséfone ainda gritou, mas era tarde demais, pois a cratera fechou-se atrás do carro. E Perséfone encontrou-se no reino dos mortos onde Hades dominava, e onde iria desposá-la e torná-la rainha.

Entretanto Deméter ainda ouvira os gritos da filha, mas esta já desaparecera.

Tomada pela dor procurou-a por todo o lado, e perguntou a Apolo, deus-sol, quem teria levado sua filha. Ao que este respondeu que ela reinava agora no mundo inferior, juntamente com Hades, que a tomara por esposa. A visão de sua linda e querida filha encerrada no mundo das trevas partiu o seu coração de mãe.

Deméter abandonou a sua casa no Monte Olimpo e vagueou pelo mundo, de luto, chorando a sua perda, disfarçada de mulher idosa, pelo que ninguém a reconheceu.

E durante um ano inteiro recusou-se a deixar a terra florir, não abençoou as sementeiras nem cuidou das colheitas. Tudo definhou e morreu. E a terra, antes verde, tornou-se seca e estéril. Todos os seres vivos definhavam e passavam fome, correndo risco de extinção.

Os deuses, preocupados que todos os humanos morressem, deixando assim de existir quem os venerasse, dirigiram-se a Zeus, deus dos deuses, pedindo-lhe que falasse com Deméter para que voltasse às suas tarefas de deusa da Agricultura.

Mas os esforços de Zeus foram em vão, e Deméter jurou que enquanto a sua filha não voltasse, a terra não voltaria a produzir.

Zeus mandou, então, Hermes, o mensageiro de deus, pedir a Hades que deixasse Perséfone voltar para sua Mãe. Entretanto, Hades tinha conseguido que Perséfone comesse uma semente de romã, a comida dos mortos, pelo que acendeu ao pedido de Zeus, sabendo que quem comesse a comida dos mortos nunca deixaria de voltar ao mundo inferior.

Mãe e filha, reunidas, choraram de alegria e Perséfone contou como fora raptada por Hades, da terra florida, e levada para o reino das trevas, onde este fizera dela a sua rainha. Contou-lhe, também, como sentiu a falta do sol, da beleza da terra e do céu azul. E como, infeliz, se recusara durante quase um ano a comer, apesar das insistências de Hades, até que, para que este a deixasse em paz, havia acedido a comer um, e apenas um, grão de romã (“sobre a romã nada posso dizer, pois a sua história é um mistérios sagrado”, diz Pausânias (em Descrição da Grécia, Lº I – Ática).

Ao ouvir isto Deméter horrorizou-se, pois sabia o que isso significava para a sua filha, e que, afinal, a tinha perdido.

Zeus apiedou-se de Deméter e da filha. E porque Perséfone comera apenas um grão de romã, e além disso o fizera contrariada, decretou que esta não seria obrigada a ficar o ano inteiro no Mundo Inferior, mas que apenas aí ficaria metade do ano, e que na outra metade poderia voltar para sua mãe.

Nesses termos, sem deixar de ser fiel ao seu juramento, durante os meses em que a filha está com ela, Deméter permite que a terra fique verde e abençoa as sementeiras e as colheitas. Durante a metade do ano em que Perséfone está no Mundo Inferior, Deméter chora, e na sua dor e solidão, faz com que a terra fique fria e estéril, não permitindo que nada cresça durante esse período de dor. Assim a terra terá de esperar que Perséfone volte, cada primavera, para então ficar de novo verde e quente, num ciclo repetido todos os anos.”

Demeter é a Deusa-mãe. Da geração dos deuses olimpos, filha de Cronos e Reia. Deusa das sementeiras, sobretudo do milho, que se cultivava nas planícies de Elêusis, à volta de Atenas. De muitas faces, associada a Ereshigal, Hecate e Brimo.

Os conhecimentos encerrados no Mito, só eram acessíveis aos iniciados nessa Escola de Mistérios, através de um Ritual em grande parte hoje desconhecido. E como o que se conhece, deve-se a fontes que o descreveram para o detratar, geralmente escritores cristãos.

Esta Escola organizava grandes celebrações públicas, chamadas Festas Eleusinas, que decorriam de cinco em cinco anos, na Primavera e no Outono, os dois períodos de sementeira dos grãos, correspondentes aos pequenos e grandes Mistérios, obrigatórias para todos os iniciados.

Tinham por oficiantes os sacerdotes, ou Hierofantes, e as sacerdotisas, e decorriam durante, pelo menos, duas semanas, sendo nove os dias principais:

1º dia – reunião dos neófitos.

2º dia – purificação pela água (talvez no mar ou na “fonte Eneacrunos ou dos noves repuxos” (Pausanias, citado).

3º dia – jejum durante o dia. À noite, interrompia-se o jejum comendo bolos de cevada e dormideira, e bebia-se uma bebida sagrada (ciceon).

4º dia – procissão do cesto (calathus).

5º dia – procissão noturna dos archotes.

6º dia – partida de Atenas para Elêusis, para ofícios do culto. (Os Atenienses chamam-lhe o “Caminho Sagrado”, conforme escreve Pausanias: (Descrição a Grécia, Livro I: Ática, 1.36.3).

7º dia – regresso a Atenas, com cerimônia da figueira sagrada e as brincadeiras da ponte (por onde passava a procissão entre o gozo e brincadeiras maliciosas da multidão).

8º dia – cerimônias dedicadas a Esculápio, deus das curas.

9º dia – Quebra dos vasos: partiam-se dois vasos cheios de vinho, colocados um a oriente e outro a ocidente, ao mesmo tempo que se pronunciavam palavras mágicas (a linguagem é mágica, parabólica, instrutiva, alegórica e descritiva). O conhecimento (os vasos) vinha do ocidente através dos Celtas (Gauleses), e do Oriente, pelos indo-europeus e os Persas. Agora que “a sabedoria foi já transmitida ao iniciado”, os vasos podem ser partidos.

Rituais

Os rituais de iniciação eram dirigidos pelos sacerdotes superiores (hierofantes) e celebrados durante a noite, em Elêusis, no templo de Deméter, sendo a entrada vedada a profanos sob pena de morte. Eram precedidos de um rigoroso jejum e vigília noturna. Comportava provas físicas (percursos noturnos, ultrapassagem de obstáculos) e psíquicas (barulhos misteriosos, fantasmas, visões), destinadas a avaliar o caráter do candidato.

Da sessão de iniciação, propriamente dita, pouco sabemos. De um relato de Clemente de Alexandria (Stomata), retiram-se alguns indícios, mas obviamente que este não conhecia os segredos.

“Comi do que estava num tambor, bebi o que estava num címbalo, transportei Cernos, e fechei-me num quarto. Jejuei, bebi da taça, recebi o que havia dentro da cesto e, depois (do meu trabalho), coloquei tudo numa bolsa; em seguida, tirando-as da bolsa, coloquei-as novamente dentro do cesto.”

Beber da taça significaria adquirir o conhecimento do passado, o trabalho seria o interrogatório.

E o que estaria dentro do cesto?

Novamente Clemente de Alexandria:

“Bolos de sésamo, em forma de pirâmides, redondos e planos, sal, uma serpente, símbolo de Dionísio, ramos, troncos e folhas, sementes de papoula, manjericão, uma lâmpada, uma espada, um pente de mulher”.

A tudo isto acrescentar-se-iam ainda os bustos de deuses e deusas, “ídolos de madeira mal talhados”, dizia Tertuliano, dos quais alguns estavam enlaçados por serpentes, comemorando assim a união fecunda das mulheres terrestres com os deuses. A manipulação desses objetos devia, na crença geral, transmitir as forças misteriosas que os habitavam e estabelecer uma espécie de filiação divina.

Terminaria com um juramento sagrado, com a transmissão das palavras sagradas e de reconhecimento.

Haveria um pagamento a efetuar pelo iniciado para custear as despesas da Escola, de trinta dracmas, mais um porco, e ainda uma gratificação dos Sacerdotes de Elêusis.

Referência Bibliográfica

OLIVEIRA, C. de. Antiguidade: Crenças e Escolas de Mistérios, 2. ed. Londrina: Ed Maçônica A Trolha, 2013, 208 p. (Coleção Cadernos Humanitas).

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2 Replies to “A Escola de Elêusis”

Ordali Sebastião Pereira

Excelente comentário, meu desejo é terminar e alcançar o ultimo grau. Que Deus me ajude!

Mago

Quanto custa a iluminação, esta em promoção?